Tudo é questão de despertar sua alma...

O que significa essa tal experiência?

Estes dias, enquanto trabalhava, comecei a refletir sobre o desafio de criar experiências. Pesquisando na internet é possível perceber que o chamado turismo de experiência está meio na moda... Foi pensando nisso que comecei a escrever um artigo para o blog que abordasse este tipo de turismo, compartilhando com os leitores algumas considerações sobre o tema. E assim comecei... Até me dar conta de que a palavra experiência, em si, é muito ampla, e pode ser utilizada em vários contextos.

Quando falamos em turismo rural, turismo cultural, turismo de aventura, por exemplo, é meio óbvio o tipo de atividade, o tipo de proposta e por que não dizer, o tipo de experiência. Mas, se estas atividades costumam ser consideradas experiências, por que então inventar um novo segmento de turismo e chamá-lo de turismo de experiência? A primeira impressão é de que este termo é redundante... Mas será isso mesmo?




Antes de tudo, vamos refletir sobre o que é a experiência em si. No entendimento que assumimos no Projeto Umami a experiência tem um sentido muito especial, único. O desafio aqui não é só criar experiências, mas oferecer a oportunidade para que as pessoas vivenciem experiências, sintam-se parte de algo, conectadas com momentos, lugares, pessoas. A atividade em si será incompleta se não formos capazes de motivar as pessoas para que elas se disponham a ser tocadas por experiências que associem a atividade turística com a cultura gastronômica.

A origem da palavra experiência vem do latim experiri, provar (experimentar). A experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova. A raiz indo-européia é per, com a qual se relaciona antes de tudo a idéia de travessia. Em grego, há numerosos derivados dessa raiz que marcam a travessia, o percorrido, a passagem. Assim, a experiência é uma espécie de abertura para o desconhecido. Em português, experiência significa “o que nos acontece”. Em espanhol, “o que nos passa”. Em italiano,“quello che nos succede” e em inglês, “that what is happening to us”; Portanto, a experiência é o que nos acontece, o que nos passa, o que nos toca. Não o que acontece no mundo, de forma geral, mas o que acontece conosco, dentro de nós. Neste sentido, é preciso se sujeitar à experiência. Em outras palavras, a pessoa precisa se transformar em um território de passagem, alguém sensível, que pudesse ser afetado pelo que lhe acontece, marcada, alguém em que se possam deixar vestígios. Ao entender a experiência como “aquilo que nos acontece”, nos tornamos um espaço onde têm lugar os acontecimentos.  Por outro lado, é incapaz de experiência aquele que se fecha, a quem nada lhe passa, a quem nada o toca, nada o afeta, a quem nada ocorre.

Fiquei imaginando um currículo, destes que enviamos às empresas quando nos candidatamos a alguma vaga. Sempre nos perguntam quais nossas experiências de vida, acadêmicas e profissionais, como se isso realmente pudesse ser algo tão dividido assim. Experiência não é algo que se tem, mas algo que se é, ou melhor, algo que nos torna. Somos resultado do conjunto de experiências que vivenciamos e que nos moldaram, deixando vestígios em nós. Não temos experiência em nada. As experiências que nos tem, ou não. Ou vivemos as experiências, ou nada nos acontece. Existe um pensador espanhol, Jorge Larrosa Bondía, que gosta bastante desta discussão e afirma que as experiências são algo raro hoje em dia. Segundo ele estamos imersos na “Sociedade da Informação”, na qual existe um excesso de informações e de opinião: todo mundo tem uma (suposta) opinião sobre o que se passa, o que acontece ou o que é. As pessoas têm cada vez mais informação, e cada vez menos experiências. Quase nada lhes acontece de fato porque a sociedade contemporânea tem criado um GAP na relação entre o conhecimento e a vida humana. E a experiência é, ou deveria ser, uma espécie de mediação entre ambos.

Além disso, existe a questão da falta de tempo. Hoje não só tem muita informação e opinião, como somos também consumidores vorazes e insaciáveis de noticias, fatos e até mesmo lugares. Nunca estamos satisfeitos. E a experiência, na contramão, é a possibilidade de dedicar tempo para que algo nos aconteça, ou nos toque. Ela requer “parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, e dar-se tempo e espaço”.

A experiência no contexto deste blog é entendida como a informação transmitida pelo meio, percebida pelos cinco sentidos. O foco é a criatividade e autenticidade como bases na formatação de produtos e serviços que proporcionem sensações únicas e inesquecíveis, que contem histórias e trabalhem com os sonhos. Existem evidências de que existe um perfil de turista novo, mais consciente, que não quer ser meramente contemplativo, antes disso, ele quer viver alguma coisa, quer que algo o aconteça e o transforme.

Portanto, a verdadeira experiência traz à tona a necessidade de recuperar as relações profundas entre as pessoas e o meio, através do despertar de seus sentidos. As idéias e ações aqui compartilhadas são concebidas sobre este alicerce. Criar formas de conectar mais as pessoas com o mundo e através disso valorizar produtos da terra é o nosso ideal. Por isso, quando penso no significado da palavra experiência, sempre me vem à mente as sábias palavras de Gabriel García Marquez, que a meus olhos traduz perfeitamente o sentido da palavra e, conseqüentemente, nosso maior desafio quando pensamos na busca da verdadeira experiência: "Tudo é questão de despertar sua alma..."


Texto por Marina Moss

2 comentários:

  1. Bela reflexão, Marina! Belo convite ao despertar de nossas consciências. E de nossas almas... :)

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    1. Muito obrigada Érico, que bom que gostou! Seus comentários sempre me alegram!

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