Devaneios sobre a arte "de tomar" cafés

Post escrito para o Clube Barista, mas que diz muito sobre café e experiência pessoal de cada um. Por quê não compartilhar aqui também?

"Bom. Afinal de contas, o Clube Barista é pra ser um clube, não? Uma reunião de pessoas que, por profissão ou afinidade, troquem ideias em torno de uma xícara de café. Sendo assim, nada mais justo que contar com a contribuição de leitores e colegas para animar ainda mais nossa discussão sobre infusões e rubiáceas. Nossa convidada de hoje é Marina Moss, turismóloga belorizontina e apaixonada por café. Esse texto vem muito a calhar no blog do CB, e eu o apelido carinhosamente de Manifesto. A Marina nos traz a visão leiga de quem, de repente, descobre que durante a vida inteira aprendeu tudo errado sobre café. Errado mesmo? Manifestem-se!"
Helga Andrade, Clube Barista





Não sou barista, nem cafeicultora, nem trabalho no ramo cafeeiro. Sou brasileira e amo café. Simples assim. Sou aquela pessoa comum que cresceu sentindo o cheiro de café feito em casa, coado na hora, adoçado com açúcar e acompanhado com broa de fubá. Gosto dessa lembrança, e sigo esta tradição assim na minha casa, com minha família, meus amigos, com aquela visita de última hora: “Entra pra cá, aceita um cafezinho?”. Aliás, adoro que me convidem para um cafezinho... 

Ultimamente, tenho ficado em crise. É que minha paixão pelo café me levou a conhecer pessoas e lugares. Pessoas que trabalham com café, profissionais do café. Lugares especializados no melhor café, cafés especiais, com aromas e diferentes “blends” (não entendo isso direito, mas escuto muito). 

Agora eu sei que existem cafés maravilhosos, únicos. Que o Brasil é o maior produtor de café do mundo e que tem se especializado cada vez mais em cafés finos e especiais, os chamados Cafés Gourmets. Tenho acompanhado de perto amigos baristas e sua arte (pois são artistas) de fazer café, tenho freqüentado campeonatos, tenho lido sobre todo o processo produtivo do café, e cada vez mais, tenho certeza de que estamos comendo mosca, abafando nosso potencial em ser o País do Café. Mas não do “café matéria prima, commodity”... e sim do café de qualidade, do valor agregado do café, dos melhores profissionais do café.



Mas a questão é que, mesmo sabendo disso, eu ainda amo o meu cafezinho. Estou em crise, pois tenho aprendido que o café que eu cresci tomando é ruim. Que não se coloca açúcar em cafezinho, ops, ESPRESSO... Isso é um crime contra a doçura natural do bom café. Mas e aí? Se eu quiser tomar um café bom não poderei mais viver meu momento cafezinho doce em casa? 

Confesso: achei muito ruim quando tomei minha primeira xícara de café ESPRESSO. Horrível... Fiquei me perguntando, será que para ter o direito de degustar um bom café, só sem açúcar? Isso é sofrido. Meus amigos baristas têm tido muita paciência comigo... Às vezes me deixam colocar um pouquinho de açúcar, ou então, inventam algumas combinações docinhas e ai fica mais fácil. O resultado desta atenção é que tenho gostado cada vez mais! Quebrado barreiras. Começo a acreditar que o café especial pode ser acessível a todos os lares do Brasil, pode se tornar parte de nossa cultura e do nosso cotidiano. 

Lembrei-me que, antes de aprender a apreciar um bom vinho, bebi muito vinho Canção por aí... O aprendizado foi um processo. Tem que aprender a ler a bebida, aprender a valorizar, aprender a beber. Ninguém nasce gostando de vinho, e desconfio que nem de café. Meus amigos baristas tem tido o cuidado de me ensinar o que é um bom café. Não fui criada assim, cresci bebendo café doce e penso que esta é uma mudança de hábito, uma incrementação cultural.

“Tomar um cafezinho” faz parte da cultura brasileira, é a arte do encontro. A estratégia de inserção de melhores grãos e a valorização do café no mercado brasileiro não pode nunca negligenciar esta realidade... Porque, mesmo conhecendo cada vez mais o mundo dos cafés especiais, jamais recusarei um cafezinho para um “dedo de prosa”, por pior que ele seja... por isso, melhor será se puder ser com um café gostoso e aromático!

Acredito que, como eu, exista milhões de brasileiros que amam um bom café, e que ficariam muito satisfeitos de ter acesso aos nossos grãos preciosos, para que nosso melhor café fique aqui no Brasil e não só nas deliciosas máquinas Starbucks espalhadas mundo afora. Perfeito será se eu puder degustar meu “cafezinho especial”, feito com grãos de qualidade, na tranqüilidade da minha casa, desfrutando de companhias na minha mesa... Será que dá?

E fico me perguntando: Quem vai ensinar a arte de beber café aos brasileiros, meus queridos amigos baristas?


*Marina Moss é turismóloga pela UFMG e atua em Belo Horizonte. Para entrar em contato, escreva paramarinamoss@yahoo.com.br

Café com turismo em Serra Negra


Belezas naturais da região e cafezais a mais de mil metros de altitude atraem visitantes para conhecer a lida do campo

                                    

Turismo Rural em Serra Negra/SP

O café produzido em Serra Negra vai muito bem. O município, integrante do Circuito das Águas Paulista, fica a 972 metros acima do nível do mar, em um vale rodeado de montanhas. Os cafezais, abertos em encostas de morros, se beneficiam desse clima ameno, típico ''clima de montanha'' e terra boa. A temperatura média fica em máximas de 29 e mínimas de 5 graus. A grande maioria dos cafeicultores, 90%, se beneficia dos recursos que a própria natureza dispõe e por isso faz o plantio em áreas declivosas.

Talvez por isso mesmo o café continue sendo uma cultura tradicional, representando a principal atividade agrícola no município, com 75% da receita rural, conforme a Secretaria da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Serra Negra. O perfil agropecuário é o de pequenas propriedades: só 14% têm áreas acima dos 50 hectares.

EM PLENA SAFRA

São 16 bairros rurais, onde a quase totalidade atua na agricultura familiar. A média anual de produção de café colhido é de 120 mil sacas beneficiadas, o que gera uma receita para o município em torno dos R$ 30 milhões. A colheita começa em geral no fim de maio ou meados de junho e segue até agosto ou setembro. Serra Negra tem 3.500 hectares de café em plena safra.

É nesta época de safra também que o turismo rural é mais intenso. Os agricultores se organizam para receber o visitante em busca de passeios que vivenciem a lida do campo. ''O turista gosta de ver como é colhido o café, como é feita a torrefação e compra para levar para casa'', explica o secretário da Agricultura, Hélio Rubens Franchi Silveira.

Na propriedade Vale do Ouro Verde, o produtor Nelson Bruni tem um cafezal a 1.040 metros de altitude. Os cultivares do arábica são o catuaí, obatã, tupi, urubatã. A variedade mundo novo, de porte alto e espaçamento largo, vem sendo substituída pelas anteriores, que têm um porte médio com alta produtividade, excelente para o maior adensamento e facilidade na colheita.

''Imagine o funcionário carregando uma escada subindo a montanha para colher café?'', pergunta ele, mostrando a porção do cafezal que sobe pelo vale. Agora, aonde estavam 500 pés do mundo novo, podem entrar 1.380 pés de catucaí ou do tupi. ''Tirei mil pés de mundo novo e substituí por 3.500 de obatã'', conta Bruni.

Além da renovação da lavoura, com um cafezal novo com boa carga de grãos, o produtor vai contabilizar maior produtividade por área. ''Dá para colher no terceiro ano. No sexto ano o café já é adulto.''

O espaçamento adotado vai depender da poda que se pretende fazer mais adiante. Uma poda drástica, por exemplo, quando sobra apenas um toco de 40 centímetros da planta; um desbaste para deixar formar ''a saia'' da planta ou o esqueletamento, o corte da galhada para que cada galho possa gerar entre quatro e cinco novos ramos.


O produtor não gosta de apresentar números da produção, mas informa que está produzindo bem e com um preço razoável. Sem querer mencionar a previsão deste ano, e maldizendo o ''fiasco'' do ano passado, conta que vende 90% para empresas. O restante põe no terreiro, beneficia, torra, embala em grão ou moído e distribui em empórios, lojinhas e casas de café expresso com marca própria. Além disso, recebe turistas na propriedade.


INFORMAÇÕES: Casa da Agricultura, tel. (0--19) 3842-2815

Autor: Rose Mary de Souza - Disponível em: O Estado de S.Paulo